quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

[Notícia] CRP-RJ: "Somos todos Pinheirinho!”


No último dia 22 de janeiro, um efetivo de 2.000 policiais expulsou centenas de famílias que viviam havia oito anos em um terreno de aproximadamente um milhão de metros quadrados na cidade paulista de São José dos Campos. Sem possibilidade de reação, mais de três mil pessoas (o número pode chegar a nove mil) foram retiradas de suas casas, levando apenas a roupa do corpo. Há registro de agressões, tiros e prisões, e moradores do local garantem que houve mortes, inclusive de crianças. Mais uma vez, a imprensa comercial produz sua própria versão dos fatos.

Os policiais que realizaram a ação na comunidade estavam fortemente armados, e contavam com apoio de dois helicópteros e um carro blindado da Polícia Militar. Enquanto milhares de pessoas fugiam da ação policial em busca de salvar suas próprias vidas, a imprensa comercial só deu algum espaço à remoção após a intensa manifestação de ativistas de direitos humanos na internet. As redes sociais potencializaram os protestos, mas ainda assim as denúncias das redes televisivas, revistas e jornais são rasas e vazias.

As Brigadas Populares, a Justiça Global e a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, com apoio de outras instituições, publicaram o relatório “Pinheirinho: Um Relato Preliminar da Violência Institucional”, que conta com depoimentos de ex-moradores e pessoas que estiveram no local. Organizações que lutam pelos Direitos Humanos formalizaram denúncias sobre o caso a instâncias de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Boa parte da população brasileira desconhece o que se passa, de fato, em Pinheirinho. As poucas notícias divulgadas pela chamada “grande imprensa” não abordam as violações de direitos humanos e agressões à população do local, enfatizando uma disputa jurídica entre as esferas Estadual e da União, colocando as deliberações judiciais à parte dos posicionamentos políticos. Mais do que isso, em alguns momentos responsabilizam e criminalizam os ex-moradores. Por outro lado, veículos de imprensa de países como Inglaterra e França tiveram acesso à situação e cumpriram o papel que lhes cabe: denunciando.
Além disso, ativistas e organizações de Direitos Humanos do Brasil e do Mundo não se deixam calar. A frase “Somos todos Pinheirinho”, que se tornou símbolo da luta contra a barbárie cometida no local, já foi vista em manifestações em Berlim, Madri, Paris e outras cidades do exterior. E elas não param.

No Rio de Janeiro, uma das manifestações mais marcantes é a de Pedro Rios Leão. O carioca se deslocou a São José dos Campos quando soube que a Polícia seria orientada a entrar no local e acompanhou de perto a ocupação. O resultado foi o documentário “Eu Queria Matar a Presidenta – Depoimentos da Guerra Civil Brasileira”, que mostra cenas violentas da desocupação, depoimentos de ex-moradores e critica instituições e lideranças políticas que se aliaram na ação.

No último dia 29 de janeiro – exatamente uma semana após a invasão de Pinheirinho – Pedro acorrentou-se a um canteiro em frente à Central de Jornalismo da Rede Globo, no bairro do Jardim Botânico, no Rio, e iniciou greve de fome. Ao CRP-RJ, ele afirma que sua manifestação é por justiça. “Vou sair daqui e encerrar a greve de fome quando a sociedade civil souber fazer um julgamento sobre o que está acontecendo”, disse.

O terreno onde as famílias viviam há anos pertenceu à Selecta, empresa de Naji Nahas, nascido no Líbano e radicado no Brasil. Nahas ficou conhecido nacionalmente após denúncias de especulação e fraudes em operação de empresas como o Banco do Brasil, a Petrobras e a Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale). Nahas foi preso em 1989, e novamente 2010, quando foi acusado de chefiar organização criminosa.

O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) se une às vozes que, mesmo “remando contra a maré”, não se calam. Faça sua parte, denuncie! Compartilhe as informações e as denúncias. Somos todos Pinheirinho!
02 de fevereiro de 2012

Fonte: http://www.crprj.org.br/noticias/2012/020201-Somos%20todos%20Pinheirinho.html

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